Mitos e Verdades sobre a Quimioterapia

Sónia Rego Oncologia Porto

Dra. Sónia Rego
Oncologia

Médica

Mitos e Verdades sobre Quimioterapia

A quimioterapia, uma das mais importantes armas de que dispomos no tratamento contra o cancro, surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, quando as pessoas que trabalhavam em pesquisas com o gás mostarda (substância utilizada na guerra química) começaram a apresentar alterações nos glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas e anemia. Isso chamou a atenção dos
pesquisadores que passaram a estudar o assunto, porque há doenças em cancerologia, como muitas leucemias e alguns linfomas, que evoluem com aumento dos glóbulos brancos (leucócitos) e queda dos vermelhos (hemácias).
Realmente, o gás mostarda foi o primeiro quimioterápico utilizado, a primeira droga química que se mostrou capaz de destruir as células tumorais. Depois, vieram outras que transformaram a quimioterapia num ramo da medicina que tem salvado muitas vidas e aliviado o sofrimento dos doentes. 

A quimioterapia, uma das principais condutas terapêuticas para o tratamento do cancro, utiliza medicamentos potentes que tem como objetivo destruir as células doentes.

Como funciona a quimioterapia e qual o seu mecanismo de acção?

Se entendermos isto, também vamos entender o porquê de muitas das vezes a quimioterapia além de actuar sobre as células tumorais, também actua sobre as outras , podendo provocar alguns efeitos
sistêmicos.

O que são ciclos de quimioterapia?
Ciclos são unidades de tratamento quimioterápico administradas periodicamente por tempo determinado.
Por exemplo, há protocolos de quimioterapia (e protocolo de quimioterapia implica em vários fármacos, alguns deles citotóxicos- dirigidos para a célula tumoral- outros são incluídos nos protocolos para prevenir a toxicidade dos próprios citotixicos) que são administradas a cada 28 dias; outras, a cada 21 dias , de 15/15 dias e outros ainda semanais.

1. Toda quimioterapia causa queda de cabelos?
Depende. Atualmente, a quimioterapia possui mais de 100 medicamentos e diversas combinações entre eles, possibilitando inúmeras alternativas de tratamento, que também podem resultar em diferentes reações, mais ou menos potencializadas. A queda de cabelo é uma dessas reações e pode ou não acontecer, tudo depende do tipo de medicação que será utilizada em cada caso. A intensidade da queda
também pode variar. Ou seja,isso não é uma regra. Depende do tipo de quimioterapia usada. É
importante saber, que o organismo de cada um também é um fator que interfere na variação dos efeitos colaterais. Por isso, sintomas como a queda de cabelos, náuseas, vómitos, entre outros, podem ser mais comuns uns que em outros.

2. Medicamentos quimioterápicos exigem acompanhamento médico frequente?
Verdade. Quando o médico prescreve a utilização de determinado remédio no tratamento quimioterápico,
ele tem embasamento técnico e científico para isso. Como a maioria dos quimioterápicos apresentam efeitos colaterais, o paciente deve realizar regularmente consultas e exames de sangue, o permite ao
médico monitorar todas as etapas do tratamento e contornar grande parte das reações indesejadas.
Além dos casos em que a quimioterapia é a principal modalidade no plano terapêutico do paciente, esse acompanhamento médico deve ocorrer também quando sua função for complementar (terapia adjuvante ou neoadjuvante), com o objetivo de controlar ou diminuir a magnitude dos efeitos.

3. Terapias alternativas podem substituir a quimioterapia?
Mito. Apesar de algumas drogas utilizadas na quimioterapia serem derivadas de elementos da natureza,como raízes, cascas, flores e frutas, é preciso descobrir exatamente qual é a substância capaz de destruir o tumor. São necessárias altas concentrações dessa substância, que devem ser analisadas e testadas
antes de serem comercializadas e aplicadas, com o objetivo de se descobrir não só qual a dose e frequência corretas, como também os possíveis efeitos colaterais tanto a curto como a longo prazo. Por isso, essas terapias alternativas, sem pesquisas sobre sua ação, podem não inibir a progressão do
câncer e piorar o quadro clínico, diminuindo as chances de sucesso no tratamento.

4. É comum ter Náuseas e vômitos diariamente?
Muito provavelmente sim. Esses efeitos também dependem da medicação utilizada, além da sensibilidade de cada organismo. Mas hoje em dia , já conseguimos administrar juntamente com a quimioterapia, medicamentos para prevenir estes efeitos.
As náuseas e vómitos acontecem quase sempre, mas alguns cuidados com a alimentação, por exemplo,
podem melhorar muito o quadro.

5. Sexo está proibido?

Mito. Uma dúvida frequente. Não há uma contra-indicação para todos os casos. Mas esse é um período em que é fundamental respeitar alguns limites do corpo.
Existe uma grande preocupação quanto ao fato engravidar, afinal, isso não deve acontecer durante a fase de quimioterapia. Sendo assim, o aconselhado tomar cuidado e se orientar bem. A vida sexual da maioria
dos pacientes com cancro acaba por sofrer algum impacto, em função da própria doença ou de seu
tratamento.
Isso acontece por várias motivos, de natureza física e emocional. Por isso, é importante que os pacientes
e seus companheiros não se cobrem o mesmo interesse e desempenho que se costumavam ter. Mas o
sexo não está proibido.  E, apesar de frequentemente fazermos recomendações na fase de queda nas
contagens dos leucócitos, não há restrição completa ao sexo.
Vale destacar que é muito importante que a paciente não esteja grávida e que não engravide ao longo de
todo o período de tratamento. Por isso, é fundamental que se defina o método de contracepção ideal, antes de começar as aplicações.

6. Não se pode brincar com os animais?
Mentira! A companhia dos pets até mesmo ajuda nesses momentos, afinal, eles só nos dão carinho.
Ainda assim, em algumas fases , quando existe a maior probabilidade de ter baixas nas defesas do
organismo, deve haver cuidado com o facto de não haver feridas nem arranhões, pois há maior
probabilidade de infecções. Por isso, pode haver contacto com os animais

7. Não se pode pintar o cabelo ou arranjar as unhas?
Mentira! Não precisa abrir mão de sua vaidade porque está com cancro.
Ao longo do tratamento, é melhor evitar alguns procedimentos, como a retirada de cutículas pelo risco de infecções envolvidas. 

8. Devo me isolar de todos?
Não! O isolamento é indicado em situações extremamente especiais, como quando as terapias
comprometem os glóbulos brancos, responsáveis por nos proteger de infecções ou no caso de transplantes.
Caso contrário, é muito importante manter as relações pessoais como antes, assim como a vida social.
É importante saber que estão mais propícios a apanhar infecções, logo, devem ter mais cuidado se
alguém estiver a tossir directamente para o doente que está sob tratamento de quimioterapia.

9. A quimioterapia causa infertilidade?
Não exatamente! Em alguns casos, a quimioterapia pode aumentar o risco de esterilização. Porém,
mesmo nessas situações, há diferentes técnicas laboratoriais para preservar a fertilidade tanto do homem como da mulher.

10.Quando se está sob tratamento com quimioterapia, isso significa que o caso é “irreversível”?
Mentira. A quimioterapia é um importante recurso para o tratamento do cancro e pode ser empregado em
diferentes situações. Muitas vezes, buscando-se a cura da doença.
Quando a quimioterapia é utilizada para reduzir tumores muito grandes antes da cirurgia, dizemos que é um tratamento neoadjuvante.
Quando utilizada para aumentar as chances de cura após uma cirurgia que aparentemente retirou todo o tumor, a quimioterapia recebe o nome de adjuvante.
Actualmente, com as grandes evoluções que os tratamentos têm sofrido, já estamos , muitas das vezes
perante uma doença cronica, ou seja, quando temos cancro metastizado, muitas das vezes faz-se
quimioterapia até progressão da doença ou toxicidade da quimioterapia. A este tipo de quimioterapia
chamamos de quimioterapia paliativa…o que não quer dizer que não se está a fazer nada pelo doente, como muitas vezes o acham…até porque além de muitas das vezes conseguirmos diminuir o tumor, também controlamos os sintomas provocados pelo mesmo.
Além disso ela pode ser utilizada em combinação com a radioterapia, para melhorar seu resultado, ou
isoladamente, para controle da doença.

11. A alimentação precisa mudar?
Depende. Durante o tratamento é importante assegurar uma boa ingestão de proteínas e de calorias. Isso pode ser um pouco complicado se ocorrer uma alteração no paladar ou na aceitação de alimentos.
O importante é descobrir o que o organismo do doente aceita bem e seguir desta forma, lembrando que
comer demais não irá trazer nenhum benefício.
Alimentos crus, desde que bem lavados, podem ser consumidos regularmente.
Situações que exigem uma restrição maior devem ser discutidas pelas equipes médica e de enfermagem.

12. O consumo de multivitamínicos é benéfico para o metabolismo do paciente em quimioterapia?
Mito. Essa prática pode prejudicar o tratamento, pois o excesso de vitaminas e minerais pode interagir
com os quimioterápicos, diminuindo a eficácia destes. Além disso, como o multivitamínico pode fortalecer a célula normal, ele é capaz também de proteger a célula tumoral. No entanto, nos casos em que o paciente apresenta a deficiência de um nutriente específico, a suplementação pode ser necessária, porém
o mais recomendado é consultar um especialista para avaliar o estado nutricional individualmente e indicar a opção mais adequada para o consumo de um determinado micronutriente (vitaminas e minerais).

13. Geralmente, o paciente ganha peso durante o tratamento?
Depende. Varia de acordo com o medicamento prescrito pelo médico. Muitas das vezes os esquemas de
quimioterapia preconizam o uso de corticoides, e isso eventualmente poderá fazer com que o doente
ganhe peso.pois além de dar mais fome causam muito inchaço.
Quando essa reação for inesperada, ou seja, não tiver relação com a medicação, deve-se investigar as
causas, que geralmente não estão relacionadas à quimioterapia, mas a outros fatores, como distúrbios
hormonais, ausência de atividade física, outras doenças, e, principalmente, hábitos alimentares
inadequados.
14. Alterações hormonais podem ocorrer?
Depende. Novamente, a reação pode acontecer ou não, dependendo do tipo de medicamento utilizado e
também o modo como o organismo do paciente reage à terapia. Mudanças no ciclo hormonal da mulher,
por exemplo. Mas o facto da mulher apresentar amenorreia ( ausência do período menstrual) , não quer
dizer que não se possa engravidar

Dra. Sónia Rego - Médica Oncologista Porto

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